Doença de Parkinson e o Exercício Físico
A doença de Parkinson (DP) é uma perturbação degenerativa crónica do sistema nervoso central, que afecta principalmente a coordenação motora. Os sintomas vão-se manifestando de forma lenta e gradual ao longo do tempo. Na fase inicial da doença, os sintomas mais óbvios são tremores, rigidez, lentidão de movimentos e dificuldade em caminhar. Podem também ocorrer problemas de raciocínio e comportamentais. Nos estádios avançados da doença é comum a presença de demência.
O EXERCÍCIO FÍSICO PODE MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA A QUEM SOFRE COM A DOENÇA DE PARKINSON?
A doença de Parkinson afeta cerca de 1% da população mundial com idade superior a 60 anos, traduzindo-se na diminuição da capacidade funcional do indivíduo afetado. Contudo, esta ação da doença sobre o indivíduo pode ser retardada através da realização de exercício físico orientado e regular, observando-se a manutenção de aspetos funcionais de movimento e da qualidade de vida dos indivíduos afetados. Para que isso aconteça, a atividade escolhida deve agir em três frentes:
– Fortalecer o sistema cardiovascular e respiratório;
– Aumentar a flexibilidade;
– Fortalecer os músculos.
PORQUE É QUE O EXERCÍCIO É IMPORTANTE NO TRATAMENTO DO PARKINSON?
– Ajuda a reduzir a fadiga e o cansaço crónicos;
– Melhora o desempenho cardiovascular;
– Aumenta o bom funcionamento neuromuscular, ou seja, torna os músculos mais fortes e os neurónios mais bem treinados e rápidos
– Há indícios de que reduz a progressão da doença de Parkinson.
Através de um estudo, em que pretendiam constatar qual a forma de exercício que promovia melhorias mais relevantes ao nível da qualidade de vida e mobilidade nos doentes de Parkinson, revela-se a importância que ao realizarem atividade física de forma regular, o ideal será combinar o treino funcional de forma orientada/acompanhada com o treino cardiovascular, no sentido de maximizar os efeitos do treino. Isto pode levar a retardar os efeitos degenerativos da doença, “obrigando” e desafiando o corpo a manter os padrões motores já adquiridos, potenciando novos padrões de movimento e desenvolvendo a capacidade cardiovascular do indivíduo. Garantindo simultaneamente um estado de saúde física e mental, potenciando a harmonia do movimento e multilateralidade do indivíduo.
Contudo, deixamos alguns traços da experiência pessoal do nosso guerreiro portador da Doença de Parkinson…
“O meu nome é Armando Silva. Nasci em Fevereiro de 1949. Tenho 69 anos e sou professor aposentado desde o ano de 2011. Sucede que, no decorrer de 2012, a certa altura, comecei a notar um quase impercetível arrastamento da minha perna direita. Para além disso, os meus movimentos em geral, estavam a tornar-se paulatinamente mais lentos. Assustado, procurei ajuda clínica que fui encontrar no Hospital da Arrábida onde um neurologista me fez submeter a um exame fundamental: O PET. Quando voltei ao hospital e o médico viu as imagens do PET e as informações constantes no relatório, disse-me, sem rodeios, que eu era portador de DP (Doença de Parkinson). Para mim o meu mundo desabou sobre mim nesse momento. Meti-me na cama duas semanas, em negação. Com o apoio principalmente da minha mulher, Ana Paula, e a compreensão dos meus dois filhos, lá fui saindo lentamente dum profundo torpor e adaptando-me aos poucos à nova situação, depois de fazer a mim próprio, mil vezes, a pergunta óbvia: porquê eu? Porquê a mim? Timidamente comecei a ler alguns textos sobre DP. Para além disso, mudei de clínico por razões que aqui não relevam, e fui parar às mãos da experiente neurologista e neurocirurgiã, Dra. Maria José Rosas, pioneira em Portugal da ECP (Estimulação Cerebral Profunda). Quando ela me viu e viu os exames começou por me tranquilizar dizendo-me que ninguém morre de Parkinson. O resto do discurso clínico dela foi tão convincente que me entreguei a ela como um náufrago a uma tábua de salvação. Como senti na médica que atribuía importância fundamental à prática de exercício físico orientado , falei-lhe nisso e, logo que me foi possível iniciei, no espaço LS Fitness em Espinho um programa de reeducação física indicado para DP pela colaboradora desse espaço, a Professora Delfina Carvalho que, a certa altura procurou e obteve formação específica para a DP. Obviamente que nunca mo disse mas sei que fez isso por mim. Hoje treino pelo menos uma vez por dia durante 50 min e submeto-me de bom grado a um programa muito exigente que tenho regularmente revelado em sede de Facebook. A verdade é que ao fim de alguns meses consegui melhorar alguns padrões de comportamento físico, incluindo maior velocidade, equilíbrio, coordenação motora, entre outros indicadores organo-funcionais. A Dra., Maria José apercebeu-se naturalmente dessas mudanças e quis saber quem era a terapeuta e como era o seu trabalho de PT comigo. Mostrei-lhe várias gravações em vídeo. O certo é que a médica não só elogiou esse trabalho como se deu ao cuidado de escrever uma carta à minha PT agradecendo de passo o seu excelente (adjetivo que empregou) trabalho. Não sei por quanto tempo vai durar a melhoria nem estou preocupado já com isso. Com a ajuda da minha PT e compreensão da minha família nuclear, consegui recuperar também a autoestima, e enfrentar a doença com determinação e confiança. Por outro lado, desde que sou tratado desta forma multidisciplinar, não só não aumentei a minha dose de dopamina ( 250 mg/dia) como me mantenho no grau 1 desta doença. Para além das obvias razões que me levaram a escrever este pequeno texto, existe uma que está aqui implícita: é que, se alguém que tiver lido estas linha for portador de DP pode acalentar a esperança de poder vir a atrasar a sintomatologia com recurso a medicamentos (levodopa essencialmente) mas acompanhada (sempre) por um programa de treinos devidamente orientados por um ou uma pessoa capaz e habilitada para isso. De outra forma, rapidamente se deixará vencer por esta enfermidade que, infelizmente (ainda) não tem cura.
Armando Silva.”
Boas leituras e bons treinos!